terça-feira, outubro 31, 2006

"O mercado, a classe e a falta dela"

Num blog português de arquitectura (via arqportugal) li este magnífico e claro trabalho que demonstra a classe em que vivemos, nós os arquitectos, num país tão atrasado e cego para as ilegalidades que se praticam no dia-a-dia e nas desilusões de uma inteira geração que julgou ter tudo para vencer. O texto aborda questões que considero fundamentais para qualquer português, seja ele arquitecto ou não, entender e perceber o porquê desta classe estar no estado em que está. Fica o primeiro aviso...

"Até há 2 décadas atrás, os arquitectos eram uma classe bem sucedida: com trabalho, com obra , com dinheiro e com personalidade. E tinham a Associação dos Arquitectos Portugueses, que agora deu lugar á malograda Ordem dos Arquitectos.

O que mudou entretanto? Muita coisa.Hoje os arquitectos triplicaram, o ensino da Arquitectura massificou-se, vulgarizou-se e tornou-se moda, porque afinal de contas, abrir um curso de Arquitectura, não implica laboratórios e hospitais como em Medicina...implica apenas uns quantos estiradores ( e nalguns casos suponho que até umas vulgares mesitas), ter uns arquitectos a dar umas aulitas e pronto. E há sempre pessoas a ganhar com isso, além das Universidades...há sempre umas casas de cópias que abrem, mais uns computadores que se vendem, mais uns pais felizes que pensam estar a dar um grande futuro aos seus filhos, mais uns filhos sonhadores que pensam que se estão a dar a si mesmos uma grande profissão, mais umas cotas a entrar na ordem, mais uns estagiários à borla para os tubarões!Pois é! E tudo parece ir bem, neste cenário (uma alusão ao optimista do voltaire).
Mas desenganem-se, tudo vai mal. Os arquitectos hoje, trabalham ( ou não trabalham) á borla ou em regime de escravatura ( a ganharem 3 e 4 euros à hora, fora os recibos verdes que têm que passar), portanto +irs no fim do ano...e começam a ser já muitos os que nem um estágio não remunerado conseguem arranjar, que é Óbrigatório para acesso à Ordem dos Arquitectos, Logo... Obrigatório para poderem exercer a profissão para que estudaram.
Além de trabalharem à borla, há já muitos gabinetes que exigem que o estagiário leve o seu portátil para trabalhar , criando assim, quantos postos de trabalho desejem e evitando assim ter que pagar as licenças dos respectivos programas informáticos( autocad, photshop...)E são muitos os Arquitectos conhecidos da nossa praça, os chamados iluminados do "star system) que fazem isto.Os recém licenciados que acabam este estágio para ingresso na Ordem, e uma vez não integrados na empresa ( a maior parte,pois se há estagiários todos os anos), começam o seu pior pesadelo jamais imaginado....não encontram trabalho! Todos os gabinetes querem estagiários e sem pagar! Ora...estes espécimens, como toda a gente, têm que ganhar dineiro para viver, mas não conseguem. com a agravante de terem que pagar as cotas trimestrais á famigerada Ordem que em nada dignifica a classe, contribuindo e promovendo tudo o que referi acima.
Uma ordem que não conseguiu unir consenso nem ter força política, nem corporativismo para revogar o famoso decreto 73/73, que resumindo, permite a qualquer engenheiro e desenhador fazer o trabalho de um arquitecto.Mas não vale a pena refugiarmo-nos na vã ilusão que com esta revogação (se algum dia acontecer), os problemas da classe estarão resolvidos, e os arquitectos voltarão a ter trabalho, e as cidades serão feitas por arquitectos. Tamanha ilusão dos iludidos.A ordem dos Arquitectos deveria sentar-se em tribunal e ser julgada, pela má prestação aos seus associados. os arquitectos que têm estagiários à borla deveriam ser punidos. Os estagiários que se sujeitam trabalhar sem serem pagos deveriam ser proibidos de entrar na classe.Tenham classe e sejam classe. "

Nova Ópera de Valência

Obra do arquitecto espanhol Santiago Calatrava (residente e trabalhador na Suiça), a nova Ópera de Valência, de nome "Palau de les Arts Reina Sofía", foi ontem inaugurada pelas mãos do Reis de Espanha com a obra de Beethoven, "Fidelio".
A obra conta com mais de 4500 metros quadrados e conta com um sem número de terraços acessivéis ao público. O edifício foi construído, essencialmente, em betão armado branco e conta com um auditório principal e com dois outras salas de espectáculos mais pequenas. Esta é apenas uma das três obras que Calatrava está a realizar na nova área de construção na cidade de Valência que se auto-denomina "Cidade das Artes e Ciências".

Museu Eduardo Chillida

Muito se terá escrito já sobre o escultor espanhol Eduardo Chillida, mas a verdade é que haverá ainda muito para dizer e, acima de tudo, aprender. A par de Oteiza, Chillida é o maior escultor-arquitecto do século XX em Espanha. Teve, durante anos, um impacto tal na escultura, e mais recentemente, na arquitectura, que foi homenageado diversas vezes pelo mundo fora, por diversas identidades. Hoje, as suas memórias descansam em "solo sagrado" no seu museu no País Basco, mais precisamente em Hernani, perto de San Sebastían.

Chamei-lhe escultor-arquitecto porque as suas obras, quer escultóricas, quer desenhadas são de uma forte presença arquitectónica e não será de estranhar que Chillida tenha desistido do curso de arquitectura para se tornar escultor. As suas obras reflectem espaços, sombras, matérias, profundidade e peso, invulgares na escultura e mais utilizadas na criação da arquitectura.
Eduardo Chillida nasce em 1924 e em 1947 abandona o curso de arquitectura para se dedicar à escultura e ao desenho. Para tal, vai viver para Paris onde em 1950 realiza a sua primeira exposição. São precisos oito anos para obter o primeiro prémio na Bienal de Escultura de Veneza. Seguiram-se o prémio Kandinsky, a Medalha de Ouro de Belas-Artes em Madrid, o Grande Prémio de Artes em França, e o Prémio Príncipe das Astúrias, entre outros. É convidado em 1971 para ser professor em Harvard e em 1994 é nomeado professor na Universidade de Madrid. A 19 de Agosto de 2002 falece em San Sebastían, sua terra natal e deixa um legado imenso de trabalhos que resultam no futuro museu com o seu nome. O Museu nasce de um descobrimento de Eduardo e da sua mulher da Finca Zabalaga, local onde se encontra o Museu, em 1983. Ao comprarem parte da Finca, Eduardo resolve recuperar parte das ruínas existentes nos terrenos com o seu amigo arquiteco Joaquín Montero. Chillida conta unicamente com o seu património familiar para recuperar o espaço e assim se cria o Museu Chillida Leku.

O site do museu é explicativo de cada fase da sua vida e obra (aqui). Recupera a sua história e deixa cada visitante com vontade de explorar aquele espaço com a maior minúcia possivel. É o desejo de muitos arquitectos espalhados pelo mundo fora, visitar este "mausoléu" e aprender com ele o que a arte tem de melhor: a sua pureza em estado bruto.

Fica o desejo e algumas imagens para algum dia ver ao vivo...

Teatro Circo

Devo declarar que desconhecia tamanha beleza em Braga. Pois é, o Teatro Circo parece que já anda em obras há sete anos e esta semana abriu as portas ao público em geral. A sala principal tem mais de 100 anos e a intervenção, que foi feita com o apoio da Câmara Municipal de Braga, custou cerca de 23 milhões de euros.
A história do Teatro começa em 1915 com a sua construção pelo arquitecto Mouro Coutinho, e foi apenas em 1999 a autarquia decidiu realizar alterações para que pudesse albergar novos espectáculos. A Teatro Circo está agora dotado das melhores condições sonoras e não só para realizar uma série de eventos, entre eles ópera, ou mesmo teatro, já que vai albergar a Companhia de Teatro de Braga, como seu residente.
O espaço incluí um auditório para cerca de 250 pessoas, um restaurante, um bar de apoio e o auditório principal com cerca de 1014 lugares.
Na futura programação podemos já contar com concertos de Anthony and the Johnsons, Al di Meola, Patricia Barber, Chico César, John Zorn e Mike Patton, bem como a peça de teatro de António Fagundes "As Mulheres da minha vida".
Parece que o norte deixa de ter razões para se queixar, depois da Casa da Música e da recuperação do Teatro Circo, em Braga, o espectáculo já não é centralizado em Lisboa, como antigamente.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Filme da Semana

Children of Men (2006)

Seria muito fácil arruinar esta história e este filme, mas será difícil apontar defeitos a um filme tão perfeito que quase apetece dizer que é indispensável ver e que posso, desde já dizer, que é um dos filmes do ano.
Alfonso Cuarón, realizador do aclamado "Y tu Mamá tambíen" e dos discutível "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkabán", tem aqui oportunidade de mostrar o seu melhor filme até agora e de mostrar ao mundo uma faceta que poderá, a partir de agora, ser mais entusiasmante e apetecível para qualquer apreciador de bom cinema. O filme incluí um elenco vasto e bem escolhido com Clive Owen no centro das atenções. Clive Owen mostra uma naturalidade tal no papel que é credível e faz dele um actor a crescer, de filme para filme. É acompanhado por um brilhantismo de Michael Caine (numa interpretação de um velho "John Lennon", meio hippy, meio filósofo) e de uma curta aparição de Julianne Moore que brilha no ecrán com a ajuda fantástica da realização de fotografia, que vai pautando todo o filme num realismo atroz e numa destruição quase apocalíptica.
O filme tem por base uma ideia de que, por volta de 2009, o mundo sofre uma "doença" que afecta todas as mulheres do planeta: a infertilidade. Estamos em 2027 e o caos instala-se na maior parte das grandes cidades do globe terrestre, do qual Londres é-nos apresentado ao detalhe, através de brutais explosões terroristas e de uma brilhante demonstração de caos apocalíptico que se vive em cada canto da cidade. Tudo é monitorizado (efeito "big brother", de Orwell) e todos os emigrantes estão a ser deportados do pais. Vive-se um momento de tristeza quando se sabe da morte do ser humano mais novo do planeta, com apenas 18 anos. A partir destas premissas, o filme apresenta-se-nos como um "thriller" de acção futurista e apocalíptico, que nos transporta para momentos brutais e magnificos de cinematografia. O filme tem momentos de brilhantismo, como a cena em que Theo (Clive Owen) atravessa o corredor de um edifício destruído por balas e bombas, e é acariciado e venerado por todos os emigrantes e militares presentes. È um momento de rara beleza que define toda a realização de um artista em crescimento puro.

A FAVOR: a realização de Alfonso Cuarón, Clive Owen, Michael Caine e toda a fotografia realista que nos é oferecida.
CONTRA: a curta participação de Julianne Moore.

ESTRELAS: *****

sexta-feira, outubro 27, 2006

David Maisel e Los Angeles


Apesar de nunca ter estado em Los Angeles, Califórnia, posso seguramente atestar a grandiosidade da cidade. Los Angeles tem uma expansão idêntica à da Cidade do México mas caracteriza-se pela sua quantidade infindável de auto-estradas e viadutos. Tornou-se tão cinematográfica que os filmes de Robert Altman ou, mais recentemente, de Michael Mann (Collateral e Miami Vice) são exemplos perfeitos de uma visão actual da cidade. A cidade parece extender-se por kilómetros e kilómetros e tem uma densidade de construção que alimenta, por si só, mais construção. A deslocação numa cidade como Los Angeles é feita, essencialmente, por veículos motorizados e o simples acto de andar parece uma miragem.
David Maisel é um fotógrafo que ficou conhecido pelas séries "Black Maps", "The Lake Project" ou "Terminal Mirage", que foca as suas atenções nos extremos da poluição, e na destruição do nosso planeta. A sua nova exposição, "Oblivion", na Paul Kopeikin Gallery em Los Angeles, foca-se sobre fotografias aéreas, tiradas a preto e branco, da cidade de Los Angeles. A beleza de cada fotografia é inquestionável, bem como o intuito de dar a entender a realidade do "puzzle" que é a cidade e da sua intensa densidade. Não podemos esquecer que, ao todo, são 10 milhões de habitantes a residir numa única cidade, viva e como um organismo autónomo do resto da país.
Fica-nos a vontade de conhecer o artista e a cidade. Atravessar estas vias rápidas e perceber a dimensão das coisas. O horizonte é longinquo e o fim é invisível. Tudo parece distante e a cor parece desaparecer, tal como nestas fotografias de Maisel.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Aprender com os Outros

Estive recentemente em Madrid, capital da nossa vizinha Espanha, para uma ronda pelos ateliers dos arquitectos mais reconhecidos da "praça pública". Apesar de ter visitado os locais de trabalhos de nomes tão sonantes da arquitectura contemporânea espanhola e mundial como Rafael Moneo ou Abálos & Herreros, não foram essas visitas que me impressionaram mais. Foi toda a conjuntura que de edifícios de diferentes épocas, diferentes estilos arquitectónicos e escalas que me fizeram pensar numa cidade maior do que aquela que julgava conhecer.
Pelas ruas da Castelhana, Serrano, Passeio do Prado, Gran Via, ou pelos bairros da Chueca, Lavapiés ou Chamartín, temos a noção de escala que não existe em mais lado nenhum na Península Ibérica. Com cidades portuguesas nem vale a pena comparar, mas podemos e devemos comparar com a rival Barcelona, cidade pensada desde a sua fundação e exemplo perfeito da reabilitação e construção em quarteirões de perfeitas dimensões. Para muita gente pode parecer estranho eu falar em proporções arquitectónicas a grandes escalas como numa cidade, mas a verdade é que um exemplo perfeito disso mesmo é vermos o quanto uma pessoa se cansa a andar pela cidade de Madrid e o fácil que parece andar por Barcelona. Podemos dizer que muita influência tem o declive do terreno em Barcelona, que desce sempre em direcção ao mar (Barceloneta) e parece sempre uma cidade plana e de fácil acesso. Madrid tem inclinações que não existem em Barcelona, mas o que afecta mais o percurso pedonal na capital, é o facto de não ter existido, ao longo da história, um trabalho exaustivo no estudo de escalas do edifícios em relação às avenidas que os atravessam. Isto porque, temos a noção de que em Barcelona, os edifícios obedecem a uma regra fundamental na construção das grandes cidades, uma regra quase militar mas que funciona para manter uma aparência de grandiosidade sem esmagar o observador: os edifícios de cada quarteirão tem uma proporcionalidade em relação a cada rua pelo qual é atravessada e em Madrid isso só acontece, com pouco frequência, em zonas como a Castelhana e o Passeio do Prado. Não estou, obviamente a querer dizer com isto, que Madrid é uma cidade mal construída e desorganizada, mas dá-nos a real sensação do brilhantismo que foi a construção de Barcelona ao longo dos séculos, sem nunca se desviar do seu intuito, que foi sempre o de agradar ao passeio pedonal mas ao mesmo tempo, conseguir adaptar-se com o tempo, à evolução e aparição do veículo automóvel. Madrid é mais caótica, nesse aspecto, mas também, para uma cidade com cerca de 3.5 milhões de habitantes, não é e estranhar que todas as manhãs e todas as tardes, as dificuldades para entrar e sair da cidade sejam um desafio constante para os seus habitantes e visitantes.
Podemos, no entanto, concluir que as duas maiores cidades de Espanha, não são nem de longe nem de perto, equiparáveis a Lisboa ou Porto, pequenas províncias comparadas com Madrid ou Barcelona. E vão ser necessárias várias décadas para Arquitectos, Urbanistas, Paisagistas e Políticos (Camarários e não só) tentarem alterar o que de mal se fez e continua a fazer, nas nossas cidades, sem nunca conseguir perceber o que de perfeito se fez aqui ao lado, na nossa vizinha Espanha. Quero acreditar que não somos cegos e que, com o tempo, vamos perceber e tentar alterar, com obras de fundo e de coragem, criando novas vias, reorganizando quarteirões e bairros antigos e trazendo para dentro da cidade, não só um novo sentido de habitação mas de vida, quer seja dia ou noite, quer seja dia de semana ou domingos ou feriados. Para isso não podemos contar apenas com os responsáveis camarários, o investimento privado (a maior fatia da construção em Espanha, é privada...) tem que ser mais audacioso, corajoso e pôr os pés na terra, investindo num futuro que pode passar pela alteração das cidades a novos públicos, sejam eles novos ou mais velhos, sejam eles portugueses ou estrangeiros. Porque a Europa é hoje uma porta aberta entre nações, em que diferentes nacionalidades são hoje misturadas num "melting pot" em cidades em que cada um tenta tirar maior proveito das cidades que elegeu como "casa". Há que abrir as mentes e os horizontes e pensar mais além, deixarmo-nos de bairrísmos e regionalizações e pensar num futuro a curto prazo. É preciso mexer os investimentos e os investidores, públicos e privados e fazê-los acreditar que tudo pode ser melhor do que o existente. É só olhar para o lado...

sábado, outubro 21, 2006

Filme da Semana

Little Miss Sunshine (2006)
Realizado por um par de desconhecidos, Jonathan Dayton e Valerie Farris, Little Miss Sunshine é um "road movie" terno, e extremamente divertido. A comédia do filme aparece como consequência de toda uma série de desgraças e desventuras de cada uma das personagens que integram o elenco, ou neste caso, que integram a família Hoover.
A família é representada por Toni Collette, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Abigail Breslin (surpreendente pequena actriz que rouba as atençoes em cada cena) e Steve Carell, que começa já a ser um sério candidato a actor e a roubar o lugar a Jim Carrey como melhor actor cómico da actualidade, impondo um humor inteligente e baseado em respostas curtas, feições e olhares delirantes.
A história centra-se numa viagem através da América na qual toda a família embarca para poder levar a filha mais nova Olive a um concurso de "Miss" para crianças. Toda a viagem é cronometrada pelo controlador Richard, que vive a vida a dar lições sobre "como vencer na vida em apenas 9 passos", mas descobre que nem toda a felicidade se encontra em tão pouco tempo. Cada personagem tem dilemas consigo mesmo e com os diversos elementos da família e tudo parece explodir numa tensão de cortar à faca durante os dias em que viajam numa carrinha antiga que só dá problemas.
Aliás, a carrinha em si, é um personagem, sendo que é nela que se centram os momentos mais hilariantes do filme, como a cena em que todos têm que empurrar a carrinha para esta andar e em seguida correrem para o seu interior, ou mesmo quando a buzina se avaria e, intermitentemente, ecoa pelas auto-estradas da América.
Um filme bem construído, que engana o espectador à primeira vista, mas que se entrega como uma estreia auspiciosa e um sério candidato ao Óscar de Melhor Argumento Original.
Ao longo do filme vemos certas cenas que revelam criticar alguns hábitos puramente americanos, como os videos de auto-ajuda, ou os concursos horripilantes para crianças que rapidamente são transformadas em seres adultos e estranhos. Tudo não passa de uma farsa que os realizadores pretendem desmascarar, gozando com o que a América tem de melhor, a sua inocência.
Estrelas: ***

sexta-feira, outubro 20, 2006

Filme da Semana

Marie-Antoinette (Sophia Coppola,2006)
Neste "quadro" pintado por S.Copolla, o perfectionismo é levado ao extremo. Aliás, neste filme tudo é levado ao extremo do bom gosto, sem cair no kitsch. As cores, as texturas, as sombras, os cabelos, os vestidos, as pinturas, a comida e as festas, tudo serve de meio para representar a extravagância da rainha Marie-Antoinette. O filme serve de veículo, quase documental, para nos retratar a rainha, que com apenas 18 anos reinou França durante 19 anos, até morrer às mãos do povo numa revolução anunciada.
O filme tem a capacidade de nos colocar ao nível de um nobre da corte que tudo vê e tudo ouve acerca da rainha, ao mesmo tempo que se afasta, por vezes, para apreciarmos a beleza de Kirsten Dunst. Aliás, Dunst parece encarnar o papel como se da rainha se tratasse. Receio mesmo dizer que se afirma como actriz e uma possivel candidata a nomeada para Actriz Principal. O filme terá, com certeza esse intuito, é previsível que seja nomeado para melhor guarda-roupa, melhor maquilhagem ou melhor fotografia ou mesmo, quem sabe, melhor direcção. Sophia Coppola parece ter amadurecido e tem aqui uma visão madura, carnal e romântica de toda uma corte que vivia em Versalhes. Coppola parece ter aproveitado da melhor maneira o facto de ser a primeira realizadora a poder filmar Versalhes, e fá-lo de uma forma sublime, acentuando pontos de fuga num horizonte longínquo e deserto ao fundo dos jardins, e enaltecendo detalhes em cada sala que filma, quer sejam eles os tectos, as paredes ou mesmo o mobiliário.
É um filme de extremos, que vai dividir a opinião de muita gente, mas não deixando ninguém indiferente. Mistura gostos e enaltece a superficilidade da época, com diálogos que pecam pela pobreza de espírito e de intelectualidade que escasseava na corte. Aos poucos, o filme parece inspirar-se na última película de Terrence Mallick, "O Novo Mundo", com uma estrutura dramática, romântica dando especial atenção aos cenários e à fotografia.
"Marie-Antoinette" é um filme essencial nos filmes de época, um pouco como "Barry Lindon" foi para Kubrick. Neste caso a aceitação do público é irrelevante, pois parece-me que este é um filme para ser venerado dentro de alguns anos, para podermos apreciar a arte de Coppola e vermos o quanto ela tem crescido enquanto realizadora, passando já a ser uma das melhores no seu ramo. Dentro de 50 anos faremos um balanço da sua carreira e veremos a importância que este filme teve no seu percurso artístico,mas imagino que o futuro será sempre grandioso,um pouco como Marie-Antoinette...
Estrelas:****

quarta-feira, outubro 18, 2006

Referendo do Aborto

No Diário de Notícias de Segunda-Feira, dia 16 de Outubro, João César das Neves escreveu um texto "interessante" acerca do referendo do aborto que parece aproximar-se. Digo "interessante" porque as opiniões dividem-se e quem sou eu para impôr a minha... Ainda assim, o texto tem a virtude de nos deixar a pensar, como qualquer referendo deve fazer:
"...O aspecto mais chocante desta reedição é, sem dúvida, o momento escolhido. Hoje, ao contrário de há oito anos, o País vive uma crise grave, com estagnação económica, alto desemprego, fortes carências e contestações em múltiplos sectores."
"...Os dois lados em debate esgrimem as suas razões, mas só um deles invoca o testemunho do progresso. Segundo os proponentes, uma das principais razões para mudarmos a nossa lei é a sua desactualização. Ouve-se com frequência dizer que esta nossa legislação é obsoleta, ultrapassada, a "mais atrasada da Europa". Abortar à vontade parece ser moderno."
"...É difícil imaginar como é que o tempo entra numa questão tão básica e perene como esta. O aborto, como o terrorismo ou o crime, não melhora com o desenvolvimento, flutua com a moralidade. Mas as marés ideológicas nunca seguem a lógica."
"...uma das poucas vantagens do período de referendo é que os meios de comunicação social serão obrigados a abandonar a descarada defesa do aborto, para fingirem uma imparcialidade forçada.
"...A maré vai mudar. Entretanto a alteração da lei tem um aliado perigoso: o comodismo burguês. Não faltam os que dizem coisas como: "Eles não nos largam com isto, o melhor é deixá-los mudar a lei para ver se se calam."

sexta-feira, outubro 13, 2006

Psicologia Barata

Sempre soube o que sou,como sou e o que quero ser. A Psicologia pode ajudar muita gente a encontrar um rumo ou um objectivo na vida, quando tudo parece estar a descambar. Pelo sim e pelo não as pessoas parecem recorrer cada vez mais a este tipo de "tratamento", sabendo que pode surtir um resultado muito ambíguo ou efémero ao que uma pessoa realmente quer ouvir. Pela graça, e apenas por isso, recomendo a cada pessoa que faça um testezinho rápido para tentar encontrar-se e compreender-se melhor, através de algumas questões que são colocadas num teste que se encontra na internet...
Faça o seu aqui.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Filme da Semana

"The Descent"
Para começar, deixem-me só dizer que sou, cada vez mais, um fã incondicional de género de terror. Desde o "Exorcista", passando por "Rosemary´s Baby", ou mais recentemente um "The Ring" ou mesmo um "Texas Shainsaw Massacre".
"The Descent" é um filme de origem britânica, passado nasmontanhas do Colorado, nos Estados-Unidos. Todos os actores envolvidos, ou neste caso actrizes, são desconhecidos do grande público e isso resulta numa ligação mais humana e real com cada personagem. O guião é simples e funciona com uma perfeição invejável a muitos filmes de grande orçamento de Hollywood. E todos os efeitos especiais são de uma simplicidade e minimalismo brutal que resulta num filme de grande impacto físico e psicológico.
A história não é mais de que o encontro de 6 amigas para uma descida às cavernas do Colorado. Há um engano na entrada e vão todas entrar na "toca do lobo". Um engano fatal e que proporciona imagens de grande sufoco e agonia tanto às personagens como ao espectador. Cenas claustrofóbicas que transmitem uma tensão logo desde o início do filme e que colocam o espectador num estado de nervos cena após cena.
Para os fãs do género aconselho vivamente. Está no top dos melhores filmes de terror dos últimos anos e consegue prender o espectador do início ao fim, em especial no final, em que um "twist"nos leva, tal como as personagens no filme, a um desespero total.
Estrelas:****

terça-feira, outubro 10, 2006

Os Grandes Portugueses

Na RTP, Maria Elisa vai apresentar um programa baseado num formato que já teve óptimos resultados em países como Estados-Unidos, Inglaterra, França e Alemanha. Não é mais do que eleger as 10 figuras mais importantes da história de Portugal. Entre eles existe uma lista de cerca de 100 nomes que abrange o mundo da cultura, economia, ciência, religião, engenharia e política. Dia 15 de Outubro, um primeiro programa irá desvendar o curso das votações, e toda a gente pode votar, quer por sms, quer por telefone ou por internet.
A ideia em si não é original, já foi experimentada em diversos países, mas pode demonstrar surpreendemente, quem são as figuras mais reconhecidas e amadas do povo português, o que pode surpreender muita gente ou não. Se aparecer um Luis Figo,ou um Cavaco Silva na lista dos 10 mais votados será uma surpresa, mas se aparecer um Camões ou um Vasco da Gama, será uma prova dada da inteligência e do orgulho dos portugueses. Toca a votar e a participar aqui!