quinta-feira, outubro 26, 2006

Aprender com os Outros

Estive recentemente em Madrid, capital da nossa vizinha Espanha, para uma ronda pelos ateliers dos arquitectos mais reconhecidos da "praça pública". Apesar de ter visitado os locais de trabalhos de nomes tão sonantes da arquitectura contemporânea espanhola e mundial como Rafael Moneo ou Abálos & Herreros, não foram essas visitas que me impressionaram mais. Foi toda a conjuntura que de edifícios de diferentes épocas, diferentes estilos arquitectónicos e escalas que me fizeram pensar numa cidade maior do que aquela que julgava conhecer.
Pelas ruas da Castelhana, Serrano, Passeio do Prado, Gran Via, ou pelos bairros da Chueca, Lavapiés ou Chamartín, temos a noção de escala que não existe em mais lado nenhum na Península Ibérica. Com cidades portuguesas nem vale a pena comparar, mas podemos e devemos comparar com a rival Barcelona, cidade pensada desde a sua fundação e exemplo perfeito da reabilitação e construção em quarteirões de perfeitas dimensões. Para muita gente pode parecer estranho eu falar em proporções arquitectónicas a grandes escalas como numa cidade, mas a verdade é que um exemplo perfeito disso mesmo é vermos o quanto uma pessoa se cansa a andar pela cidade de Madrid e o fácil que parece andar por Barcelona. Podemos dizer que muita influência tem o declive do terreno em Barcelona, que desce sempre em direcção ao mar (Barceloneta) e parece sempre uma cidade plana e de fácil acesso. Madrid tem inclinações que não existem em Barcelona, mas o que afecta mais o percurso pedonal na capital, é o facto de não ter existido, ao longo da história, um trabalho exaustivo no estudo de escalas do edifícios em relação às avenidas que os atravessam. Isto porque, temos a noção de que em Barcelona, os edifícios obedecem a uma regra fundamental na construção das grandes cidades, uma regra quase militar mas que funciona para manter uma aparência de grandiosidade sem esmagar o observador: os edifícios de cada quarteirão tem uma proporcionalidade em relação a cada rua pelo qual é atravessada e em Madrid isso só acontece, com pouco frequência, em zonas como a Castelhana e o Passeio do Prado. Não estou, obviamente a querer dizer com isto, que Madrid é uma cidade mal construída e desorganizada, mas dá-nos a real sensação do brilhantismo que foi a construção de Barcelona ao longo dos séculos, sem nunca se desviar do seu intuito, que foi sempre o de agradar ao passeio pedonal mas ao mesmo tempo, conseguir adaptar-se com o tempo, à evolução e aparição do veículo automóvel. Madrid é mais caótica, nesse aspecto, mas também, para uma cidade com cerca de 3.5 milhões de habitantes, não é e estranhar que todas as manhãs e todas as tardes, as dificuldades para entrar e sair da cidade sejam um desafio constante para os seus habitantes e visitantes.
Podemos, no entanto, concluir que as duas maiores cidades de Espanha, não são nem de longe nem de perto, equiparáveis a Lisboa ou Porto, pequenas províncias comparadas com Madrid ou Barcelona. E vão ser necessárias várias décadas para Arquitectos, Urbanistas, Paisagistas e Políticos (Camarários e não só) tentarem alterar o que de mal se fez e continua a fazer, nas nossas cidades, sem nunca conseguir perceber o que de perfeito se fez aqui ao lado, na nossa vizinha Espanha. Quero acreditar que não somos cegos e que, com o tempo, vamos perceber e tentar alterar, com obras de fundo e de coragem, criando novas vias, reorganizando quarteirões e bairros antigos e trazendo para dentro da cidade, não só um novo sentido de habitação mas de vida, quer seja dia ou noite, quer seja dia de semana ou domingos ou feriados. Para isso não podemos contar apenas com os responsáveis camarários, o investimento privado (a maior fatia da construção em Espanha, é privada...) tem que ser mais audacioso, corajoso e pôr os pés na terra, investindo num futuro que pode passar pela alteração das cidades a novos públicos, sejam eles novos ou mais velhos, sejam eles portugueses ou estrangeiros. Porque a Europa é hoje uma porta aberta entre nações, em que diferentes nacionalidades são hoje misturadas num "melting pot" em cidades em que cada um tenta tirar maior proveito das cidades que elegeu como "casa". Há que abrir as mentes e os horizontes e pensar mais além, deixarmo-nos de bairrísmos e regionalizações e pensar num futuro a curto prazo. É preciso mexer os investimentos e os investidores, públicos e privados e fazê-los acreditar que tudo pode ser melhor do que o existente. É só olhar para o lado...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esta visão das principais cidades de Espanha parece-me muito correcta e demonstra que começa a haver uma nova geração em Portugal que entende que o desenvolvimento deve ser feito também e sobretudo pela iniciativa privada e não,como pensam as gerações anteriores,pelo sector público.

5:58 da tarde  

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