terça-feira, outubro 31, 2006

"O mercado, a classe e a falta dela"

Num blog português de arquitectura (via arqportugal) li este magnífico e claro trabalho que demonstra a classe em que vivemos, nós os arquitectos, num país tão atrasado e cego para as ilegalidades que se praticam no dia-a-dia e nas desilusões de uma inteira geração que julgou ter tudo para vencer. O texto aborda questões que considero fundamentais para qualquer português, seja ele arquitecto ou não, entender e perceber o porquê desta classe estar no estado em que está. Fica o primeiro aviso...

"Até há 2 décadas atrás, os arquitectos eram uma classe bem sucedida: com trabalho, com obra , com dinheiro e com personalidade. E tinham a Associação dos Arquitectos Portugueses, que agora deu lugar á malograda Ordem dos Arquitectos.

O que mudou entretanto? Muita coisa.Hoje os arquitectos triplicaram, o ensino da Arquitectura massificou-se, vulgarizou-se e tornou-se moda, porque afinal de contas, abrir um curso de Arquitectura, não implica laboratórios e hospitais como em Medicina...implica apenas uns quantos estiradores ( e nalguns casos suponho que até umas vulgares mesitas), ter uns arquitectos a dar umas aulitas e pronto. E há sempre pessoas a ganhar com isso, além das Universidades...há sempre umas casas de cópias que abrem, mais uns computadores que se vendem, mais uns pais felizes que pensam estar a dar um grande futuro aos seus filhos, mais uns filhos sonhadores que pensam que se estão a dar a si mesmos uma grande profissão, mais umas cotas a entrar na ordem, mais uns estagiários à borla para os tubarões!Pois é! E tudo parece ir bem, neste cenário (uma alusão ao optimista do voltaire).
Mas desenganem-se, tudo vai mal. Os arquitectos hoje, trabalham ( ou não trabalham) á borla ou em regime de escravatura ( a ganharem 3 e 4 euros à hora, fora os recibos verdes que têm que passar), portanto +irs no fim do ano...e começam a ser já muitos os que nem um estágio não remunerado conseguem arranjar, que é Óbrigatório para acesso à Ordem dos Arquitectos, Logo... Obrigatório para poderem exercer a profissão para que estudaram.
Além de trabalharem à borla, há já muitos gabinetes que exigem que o estagiário leve o seu portátil para trabalhar , criando assim, quantos postos de trabalho desejem e evitando assim ter que pagar as licenças dos respectivos programas informáticos( autocad, photshop...)E são muitos os Arquitectos conhecidos da nossa praça, os chamados iluminados do "star system) que fazem isto.Os recém licenciados que acabam este estágio para ingresso na Ordem, e uma vez não integrados na empresa ( a maior parte,pois se há estagiários todos os anos), começam o seu pior pesadelo jamais imaginado....não encontram trabalho! Todos os gabinetes querem estagiários e sem pagar! Ora...estes espécimens, como toda a gente, têm que ganhar dineiro para viver, mas não conseguem. com a agravante de terem que pagar as cotas trimestrais á famigerada Ordem que em nada dignifica a classe, contribuindo e promovendo tudo o que referi acima.
Uma ordem que não conseguiu unir consenso nem ter força política, nem corporativismo para revogar o famoso decreto 73/73, que resumindo, permite a qualquer engenheiro e desenhador fazer o trabalho de um arquitecto.Mas não vale a pena refugiarmo-nos na vã ilusão que com esta revogação (se algum dia acontecer), os problemas da classe estarão resolvidos, e os arquitectos voltarão a ter trabalho, e as cidades serão feitas por arquitectos. Tamanha ilusão dos iludidos.A ordem dos Arquitectos deveria sentar-se em tribunal e ser julgada, pela má prestação aos seus associados. os arquitectos que têm estagiários à borla deveriam ser punidos. Os estagiários que se sujeitam trabalhar sem serem pagos deveriam ser proibidos de entrar na classe.Tenham classe e sejam classe. "